A Playlist de Hayden

Sam acaba de perder o seu único amigo. Hayden se matou e tudo o que deixou foi uma playlist e um bilhete: “Para Sam. Ouça. Você vai entender”.

Eu não sei exatamente o que eu esperava da história ao começar a ler esse livro, porém, a experiência foi bem diferente de tudo o que eu poderia ter imaginado. Acho que eu esperava mais o protagonista relembrando bons momentos com seu amigo, através das músicas deixadas por ele, do que um livro falando abertamente sobre suicídio, a dor da perda e o senso de culpa que todos a volta daquele que se foi estão sentindo. No fim, o livro acabou sendo algo muito mais profundo e dolorido do que eu poderia esperar ao começar a ler.

Perder um amigo é um processo imensamente doloroso, principalmente quando aquele que se foi é o seu único amigo. Sam nunca se sentiu tão sozinho em toda a sua vida e tudo o que ele poderia fazer era tentar entender o que teria levado Hayden a cometer uma atitude tão extrema, e lamentar a culpa que ele com certeza tinha no seu suicídio.

Um dos fatos mais tristes em “A Playlist de Hayden” é saber que, apesar de se tratar de uma história fictícia, quantos jovens realmente sofrem com o bullying, com a pressão dos pais, por não se encaixar, alguém como no caso dele que sofria de dislexia e só precisava de ajuda e não do julgamento de todos a sua volta, e, no fim, simplesmente não suportou tamanha rejeição do mundo em que ele vivia.

Foi muito interessante ler como as pessoas não assumem que existe algo de errado, até que algo drástico aconteça. O próprio Sam, em vários momentos, relembra fatos que poderiam ter sido vistos como indícios que que Hayden não estava bem, de que ele sofria mais do que realmente demonstrava.

A autora soube construir as fases do luto do personagem principal de forma genial. Desde a raiva inicial pelo ocorrido, passando para uma saudade tão grande a ponto de ele criar uma forma imaginária do amigo ainda ao seu lado, até a aceitação de que eles viveram algo maravilhoso juntos, que sempre seria uma ótima lembrança, mas que no fim, ele realmente teria que seguir em frente.

Os outros personagens criados para essa narrativa também conseguem trazer à tona a sua dose de dor e perda, cada um à sua forma. Conhecemos Astrid assim que Hayden morre. Sam, como nunca havia tido um relacionamento com uma garota, mal tinha tido uma amizade com qualquer outra pessoa sequer, ficou encantado com essa possibilidade, mas extremamente intrigado com a aproximação que ela dizia ter com o seu melhor amigo.

Entre tantos personagens interessantes, quero destacar o irmão de Hayden. Ryan era aquele tipo de personagem que, à primeira vista, possuía uma vida perfeita. Ele parecia ser o filho querido de seus pais, um bom aluno, fazia parte da turma mais popular do colégio e se sentia feliz em transformar a vida do irmão geek em um martírio. O interessante foi poder ver toda essa fachada cair e conhecer alguém que sofria muito e também se culpava pela perda de um irmão que ele realmente nunca tratou como ele merecia.

“A Playlist de Hayden” é um livro que fala abertamente sobre a morte, ou como as pessoas lidam com isso, mas de forma muito mais profunda. Quando alguém morre naturalmente, ninguém se sente culpado por aquilo ter acontecido, mas quando a morte é por suicídio, todos a sua volta tendem a se sentir um pouco culpados por não terem sido capazes de impedir algo que não foi uma escolha deles. Esse é um livro que fala de perda, dor e como nossas escolhas e decisões podem afetar aqueles que estão a nossa volta. Ás vezes, uma simples brincadeira pode ter consequências terríveis e a pessoa pode ter que lidar com elas para sempre.