A BATALHA DOS ELEMENTOS (PARTE 3/7)

| 11 julho 2015 |

Eu estava tão aliviado, que demorei um tempo para perceber que o meu esforço para escavar a montanha estava aumentando. Eu não entendia como aquilo poderia ser possível, eu não me sentia sem energia e aquela era uma tarefa relativamente fácil. Diego também parecia um pouco alarmado, então aquilo não podia ser algo da minha imaginação.

Entre o esforço de abrir o túnel e fechar qualquer passagem as nossas costas, nós estávamos na desesperadora situação de estarmos prestes a ficarmos presos em um espaço mínimo. Em um momento de desespero, Diego deixou de lado seus esforços de segurar qualquer instabilidade que pudesse haver, para me ajudar a abrir o túnel. Todos perceberam que havia algo errado, e o clima novamente se tornou tenso.

Com muita dificuldade, Diego nos guiou até um túnel natural, com várias bifurcações. Pelo menos um lugar muito melhor do que o que nós tínhamos deixado para trás.

- O que foi que aconteceu? – Fernando parecia exasperado. Não ter muito ar a sua volta o deixava mais tenso do que qualquer outra pessoa.

- Eu não sei. – Respondi sinceramente. – Foi como se a minha afinidade diminuísse, como se a terra não quisesse me obedecer.

- Eu senti o mesmo. – Diego olhava para as suas mãos como se fosse encontrar uma resposta ali. – Eu nunca passei por isso. A terra sempre foi como parte de mim. Agora é como se eu mal pudesse sentí-la.

Aquilo era muito ruim para a nossa atual situação. Uma das nossas grandes vantagens era a habilidade de Diego. Se fossemos pegos de surpresa pelo exército do Sul, poderia ser o nosso fim. Porém, Rebeca sempre estava a um passo à frente e se preocuparia com algo ainda mais imediato.

- Eu também não sinto tão bem a minha afinidade. É como se a água quase não me obedecesse mais. Eu devo conseguir criar poucas gotas, não mais do que isso.

Seu olhar alarmado se virou imediatamente para Rodrigo, o único que não havia se pronunciado. Ele entendeu o que ela queria e se concentrou por um momento, apenas para balançar a cabeça em negação pouco depois.

- Que droga é essa? – Gritou Rodrigo frustrado. – O que tem de errado com o interior desse lugar?

Ninguém respondeu, porque todos também queriam aquela resposta. Aquilo era impossível. Eu nunca tinha ouvido falar de algo que pudesse suprimir as nossas habilidades. Eu nunca quis aquilo, nunca realmente pensei se queira aquilo, mas agora era como se algo importante tivesse sido tirado de mim.

Nós erámos um esquadrão muito forte, por conta de nossas afinidades, mas, sem elas, não erámos nada. Era terrível pensar que aquilo estivesse acontecendo. Como líder, eu não poderia deixar que tudo aquilo me abalasse, deveria levá-los até onde fosse possível, mesmo nas atuais circunstâncias, mas, se o meu primeiro plano já era falho, agora nem mesmo algo totalmente impossível me vinha a mente.

- Acho melhor nós nos separarmos. – Disse Rebeca, como sempre, prática. – Temos quatro caminhos a partir daqui. Devemos ir cada um por um caminho e tentar encontrar uma saída.

- Não devemos nos separar. – Eu comecei, tentando lembrar o motivo da real força daquela equipe. – Somos fortes juntos.

- Somos fortes por conta das nossas afinidades, mas, sem elas, não temos porque ficar aqui parados esperando alguém aparecer. – Ela continuou, olhando para os outros. – Vamos nos separar, assim nossas chances serão melhores. Se alguém conseguir achar uma saída ou ajuda, volta para buscar quem ficou.

As palavras foram de Rebeca, mas todos olharam para mim em busca de aprovação. Eu era o líder no fim das contas, mas nunca me senti tão inútil em toda a minha vida. Se eu saísse vivo dessa, nunca mais aceitaria liderar um esquadrão, eu simplesmente não servia para aquilo.

Concordei resignado, não querendo realmente me separar dos meus companheiros, mas sabendo que ficar ali não levaria a nada e nós seriamos encontrados com maior facilidade se alguém já estivesse nos seguindo de perto.

Nós erámos cinco e havia quatro caminhos, mas não foi preciso uma discussão. Por mais que eu considerasse todos ali mais do que meus subordinados, Rebeca fazia parte da minha vida a muito tempo. Nós treinávamos juntos há anos. Em todas as nossas simulações, nós sempre cobríamos e guiávamos um ao outro. Em épocas em que o nosso treinamento era muito mais puxado, eu passava dias sem ver Sophia, mas não me lembrava de ter passado mais do que dois dias longe de Rebeca desde que nós nos conhecemos.

Rodrigo conseguia iluminar o seu caminho quase que naturalmente, mas, sem ele, nós precisaríamos de uma fonte de luz para nos guiar naqueles labirintos repletos de escuridão. Desde que nós nos embrenhamos mais na montanha, sua luz havia diminuído consideravelmente, porém, ele ainda teve poder o suficiente para preencher quatro pedras com a sua afinidade. Aquilo iluminaria o nosso caminho por algum tempo.

- Não façam nada de arriscado. – Eu tentava pelo menos uma vez ser um bom líder. – A qualquer sinal de perigo voltem ou se escondam. Se alguém chegar a algum lugar onde sua afinidade volte completamente, tente avisar os outros, mas, se for muito perigoso, fique nesse lugar e espere por ajuda. – Eu não sabia mais o que dizer e não pude deixar de suspirar de frustração pela minha falta de habilidade como líder.

- Ei, cara. – Fernando me deu um soco de leve no ombro. – Nós vamos ficar bem. Vai ser o maior barato voltar para casa e dizer que nós enfrentamos os exércitos do Sul.

Todos riram, apenas para descontrair um pouco o clima, porque eu sabia que eles pensavam o mesmo que eu. Nós não voltaríamos.

Respirei fundo e coloquei no rosto o melhor sorriso que consegui. Se algum deles sobrevivesse por qualquer esperança que eu lhes desse, isso já me faria muito feliz.

- Muito bem, pessoal! – Estiquei a mão para que pudéssemos unir o nosso esquadrão uma última vez. Todos colocaram as mãos sobre a minha, e eu desejei, como nunca, que essa cena se repetisse milhares de vezes. Tirei minha mão sabendo que lutaria com todas as minhas forças por isso. – Eu confio em vocês. Nos vemos do lado de fora.

Sem mais nenhuma palavra, cada um seguiu o seu caminho. Meu coração parecia pesar uma tonelada. Aquele era o meu esquadrão e eu não podia permitir que algo acontecesse. Nem que eu precisasse dar a minha própria vida por isso.

Nós andamos por um bom tempo. Eu não era bom com cálculos, principalmente sem nenhuma referência, mas acho que já tínhamos andado mais de uma hora quando uma nova bifurcação surgiu. Não havia nada que pudesse ser feito, não tínhamos como descobrir o que teria no fim de qualquer uma das duas, portanto, era só escolher uma e seguir em frente.

Eu estava indo em direção a entrada da direita e não pude deixar de sorrir quando vi Rebeca ir na outra direção.

- Mulheres são tão temperamentais. – Brinquei, indo em direção ao lado que ela tinha escolhido. – O que havia de errado com o lado que eu tinha escolhido?

Eu estava apenas brincando, não importava o lado que fossemos escolher, simplesmente seguiríamos em frente. Rebeca olhou para o meu rosto, sem parecer entender a minha brincadeira, mas seus olhos se iluminaram e em seguida ela os abaixou.

- Léo, é bem claro o que temos que fazer aqui. Somos dois e temos dois caminhos. É hora de nos separarmos também.

Foi muito difícil me separar dos nossos outros companheiros, porém, ouvir Rebeca dizer aquelas palavras, dilacerava algo dentro de mim. Eu iria morrer de preocupação se ela saísse da minha vista. Eu jamais conseguiria seguir em frente sem ter absoluta certeza de que ela estava bem.

- Nós não precisamos nos separar. – Forcei minha mente como nunca para tentar encontrar argumentos que justificassem o meu pedido. – Todos os outros estão sozinhos, se eles encontrarem um caminho assim vão apenas escolher um caminho. Não tem motivo algum para nós nos separarmos.

- Mas nós não estamos sozinhos, Léo. – A voz de Rebeca soou levemente exasperada. – Podemos verificar os dois túneis e aumentar as nossas chances. – Ela abaixou o tom de voz, mas terminou de falar com a mesma intensidade. – Eu não sou mais aquela menininha que precisava de você para tudo durante o treinamento. Você não precisa cuidar de mim. Eu posso me virar sozinha.

Eu nunca tinha visto Rebeca como uma pessoa fraca, muito pelo contrário. Na época em que nós nos conhecemos, eu tinha sido hostilizado pelos meus colegas por muitos anos por ser muito novo e muito “capacitado” como diziam os meus professores. Rebeca era hostilizada pelo motivo oposto. Todos achavam que um erro tinha sido cometido, que ela seria expulsa logo, e realmente teria sido, se não tivesse provado a sua afinidade a tempo. Eu nunca tinha parado para pensar que, talvez, ela nem teria se tornado minha amiga se por algum tempo não tivesse sido excluída pelos outros, como eu.

Durante muito tempo ela foi minha única amiga. Aquilo era novo e muito importante para mim. Rebeca melhorou consideravelmente com o tempo, por isso aceitaram sem problemas quando eu pedi que ela fizesse parte do meu esquadrão. Eu não duvidava de suas habilidades, mas não podia imaginar ficar sem ela naquele lugar, ao mesmo tempo em que não podia discordar que teríamos mais chances nos separando.

- Eu nunca pensei que você não pudesse se defender sozinha, Rebecca. Na verdade, eu sempre achei você muito mais forte e esperta do que eu.

Nós dois rimos, mas aquilo não durou muito tempo. Rebeca se aproximou de mim e segurou uma das minhas mãos, a qual eu apertei com toda a força que podia.

- Você me ajudou no momento mais difícil da minha vida. – Aquele tom de voz de despedida em sua voz era terrível, mas ambos sabíamos que aquela realmente podia ser uma despedida. – Me ajudou a realizar o meu maior sonho, Léo. Foi meu amigo no momento em que eu mais precisei e eu nunca vou me esquecer disso. Eu amo você!

Eu aproveitei sua mão entrelaçada a minha para puxá-la de encontro ao meu corpo. A abracei sem poder dizer nada sem que eu lembrasse que eu era o responsável por tudo aquilo. Só poderia terminar o nosso último momento juntos dizendo a única verdade que eu sabia que não iria se perder, não importa o que acontecesse.

- Eu também amo você, Rebeca.

Ela riu com a cabeça encostada no meu ombro, mas foi um sorriso forçado, tenso, que era totalmente justificado pelo momento que nós estávamos vivendo.   

Ela desencostou a cabeça do meu ombro, mas não deu nenhum passo para se afastar. Eu nunca havia visto seus olhos tão de perto. Ela não chorava e nem parecia tão desesperada assim com o destino que nos aguardava.

Rebeca levantou as mãos e as trouxe de encontro ao meu rosto. Eu demorei para perceber qual era a sua intenção, mesmo quando ela fechou os olhos e começou a puxar a minha cabeça de encontro a dela.

4 comentários:

  1. Eu sabia que esses dois iam acabar se envolvendo! hahahaha
    Tô bem curiosa pra saber o que fez o poder deles diminuir.
    Bjs, Jana <3

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    1. hehehe "Eu desconfiei desde o princípio" :D
      Em breve você saberá o motivo
      Beijos!!!

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  2. Oi, tudo bem?! Me chamo Daniel e gostei bastante do seu blog! Já estou seguindo no gfc, no twitter e curtindo a página no facebook! Parabéns :)

    Adorei o conto, parabéns Jana!

    Abraços do Dan ^-^
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