Eu fui levado até uma das barracas montadas em volta da
montanha. Não era a maior barraca ali presente, mas era bem maior que a maioria
e logo eu entendi o porquê. Aquilo não era nada mais do que uma prisão. Pelo
visto, mamãe não confiava inteiramente em mim. Não pude deixar de sorrir com
essa constatação. Era bom saber disso.
Aquele lugar estava repleto de celas, mas todas vazias.
Nenhum morador das montanhas representaria um grande risco para alguém com
alguma afinidade, portanto, eles podiam ser deixados ao ar livre como bonecos
de treinamento. Aquele pensamento me fez perceber que eu tinha que resolver
rapidamente aquela situação.
Eu fui empurrado para dentro da minha cela que foi trancada com
um grande cadeado de metal. Aquilo não seria problema, se não fossem aqueles
quatro ao meu redor. Ninguém mais ficou na barraca, mas os quatro encapuzados
se posicionaram um de cada lado, ainda formando aquele triângulo estranho com
as mãos.
Eu tinha ficado tão surpreso com aquela aparição, e com a
energia totalmente visível em suas mãos, que não percebi logo algo que poderia
ser crucial para a minha fuga.
Eles não estavam com as mãos próximas apenas para formar o
tal triângulo, todos eles estavam algemados. Mesmo que não estivessem usando os
seus poderes de anulação, que eu supunha que era assim que eles os usavam, suas
mãos não poderiam se afastar, pois estavam presas. Aquela informação era
formidável. Eles não estavam ali de livre e espontânea vontade, eles também
eram prisioneiros, e eu precisava achar uma forma de usar isso a meu favor.
- De onde vocês são? – Eu perguntei, mesmo que todos
fingissem não me ouvir. – Vocês não são do Sul. Se fossem não estariam sendo
obrigados a trabalhar para aquela mulher. De onde vocês são?
Os quatro ficaram tanto tempo sem esboçar nenhuma reação,
que eu pensei que eles não pudessem realmente me ouvir, até que a pessoa que
estava bem a minha frente levantou o rosto e eu pude ver o que se escondia
embaixo do capuz.
Era apenas uma garota, muito mais nova do que eu, quase uma
criança, também provavelmente tirada muito cedo de sua família para começar o
seu treinamento.
- Eu sou dos exércitos do Leste. – Eu quase não pude ouvir o
murmúrio da sua resposta. Não sei se ela estava com medo ou não usava a voz há
muito tempo.
Eu percebi uma movimentação do lado direito e aquela pessoa
também levantou o rosto. Ali era um homem que estava escondido. Ele parecia ser
um pouco mais velho, mas era muito magro, a ponto de parecer que iria se
desmanchar com um toque. Ele olhou preocupado para a entrada, assim que a
menina começou a falar.
Os exércitos do Oeste, Leste e Norte tinham até que uma boa
relação. Todos tentávamos viver nossas vidas, portanto que os outros nos
deixassem em paz. Como o exército do Sul era o único que atualmente tentava
tomar terras que não eram suas por direito, todos lutávamos contra ele, quando
invadia outro território. Nunca unimos nossas forças efetivamente, o que seria
um grande feito, mas também não atacávamos uns aos outros. Nenhum outro exército
tinha relação alguma com o Sul, então eles estavam ali completamente contra a
sua vontade. Eu ainda não tinha um plano, mas aquele era um ótimo começo.
- Eu posso ajudar vocês, mas vocês terão que me ajudar.
Eles não me responderam, mas eu podia ver os seus olhos, suas
respirações pareciam quase suspensas, eu sabia que tinha sua total atenção.
- Vocês não precisam fazer nada, eu sou muito poderoso,
vocês sabem disso. Ela não teria usado vocês se não estivesse com medo. –
Apesar de não acreditar totalmente naquelas palavras, eu precisava convencê-los
de qualquer maneira. – A única coisa que vocês precisam fazer é não usar esses
poderes em mim. Em muito pouco tempo o exército do Oeste estará aqui, só
precisamos de um pouco de tempo.
- Você não conseguiu nem defender a si mesmo lá na montanha.
Ela te capturou facilmente. – Dessa vez a voz sussurrada veio das minhas
costas. A pessoa que me olhava era tão frágil e pequena quanto as outras. Eu
mal conseguia definir o sexo – Como você vai conseguir nos salvar também?
- Eu só fui pego desprevenido. – Comecei, tentando encontrar
belas palavras para convencê-los, mas preferi escolher a verdade. – Eu nunca
sequer tinha ouvido falar da existência de pessoas com a afinidade de vocês, se
é que esse poder possa ser chamado de afinidade. Foi isso que nos fez perder
daquela maneira. Sem vocês aqui, nós teríamos eliminado grande parte do exército
do Sul, ou todos que nós conseguíssemos. Com vocês do nosso lado, vamos poder
salvar aquelas pessoas sendo torturadas lá fora, impedir que o exército do Sul
acabe com mais vidas e vamos poder escapar. – Ou fazer o máximo que for
possível até o exército do Oeste chegar, mas essa última parte eu não disse em
voz alta.
Não sei se eles sabiam ou não o quanto eu não acreditava em
todas as minhas palavras, mas que eu faria o possível e o impossível para que
elas fossem verdadeiras, só sei que eles acenaram rapidamente, um a um,
acredito que com medo de que alguém visse, ou de que eles percebessem a loucura
que estavam fazendo.
_____________________________________________________________________________
Passaram algumas horas desde que eu fui enviado para aquela
cela, mas tempo o suficiente para que eu contasse o meu plano e começasse a
ficar ansioso com aquela demora. Queria sair dali o mais rápido possível, mas
não mostrar a minha pressa era fundamental para que ninguém suspeitasse que
algo pudesse estar errado.
Os quatro pareceram bem nervosos a princípio, mas estavam
dispostos a ficarem ao meu lado. Eles tinham sido sequestrados de suas famílias
e viviam como prisioneiros há anos. Apesar desse poder ser assustador, ele não
era uma arma infalível. Seu alcance era apenas para poucas pessoas de uma só
vez. Nada comparado a um exército. Mas
aquilo era exatamente o que eu precisava, poucas pessoas. Do exército, eu
cuidaria.
Quando eu comecei a pensar que eles iriam embora e me
esqueceriam ali, um homem alto e bem forte, que eu sabia ter afinidade com a
terra, pois ele tinha sido um dos que haviam arrastados os meus amigos, entrou
ladeado de outros homens, mas, pelo sorriso de satisfação em seu rosto, ele que
estava no comando.
- Como vai o nosso principezinho? – Ele me perguntou de
forma muito irônica, mas havia algo a mais por trás de seu falso desprezo.
Eu não havia parado para pensar na hora, mas agora, longe
daquela situação crítica em que eu me encontrava, com um exército inteiro ao
meu redor, podia perceber que eles não tratavam a minha mãe como se trata um
superior. Eles ficavam ao seu redor como que querendo ser notados, querendo
receber a sua aprovação.
Talvez aquilo que eu sentia no fundo de suas palavras fosse
mais do que palavras rudes jogadas a um inimigo. Por mais que eu fosse
claramente fiel ao Oeste, eu era filho daquela mulher, eu tinha um parentesco
que eles nunca teriam. Ele estava claramente com ciúmes da nossa “relação”. Eu
podia ver no seu olhar.
Não respondi a sua provocação, o que pareceu enfurecê-lo um
pouco mais, porém, o que quer que minha mãe planejasse para mim, precisava de
mim inteiro. Eu sabia que, por hora, ele não seria uma ameaça.
Meus quatro novos amigos voltaram a sua posição inicial, com
o rosto coberto. Mesmo se eles estivessem nervosos, ninguém perceberia.
Aquele homem abriu a minha cela e me puxou para fora, com
total violência. O sol estava quase se pondo quando finalmente deixamos a
barraca, mas não foi isso que quase me fez entrar em desespero novamente. O exército
estava totalmente pronto para partir. Todos a postos e equipados. O que não
estava pronto, ficaria para trás. Aquilo não era nada bom. Eu precisava colocar
o meu plano em pratica o mais rápido possível.
Minha mãe e meu esquadrão não estavam em nenhum lugar que
minha vista alcançasse, o que era imprescindível para o meu plano. Nós
começamos a nos mover, o que me apavorou. O que faríamos sem a ajuda do exército
do Oeste? Nós não podíamos deixá-los partir antes que nossos reforços
chegassem.
Infelizmente, eu não acompanhei essa história, mas confesso que essa quinta parte me agradou bastante. Além dessa parte ter me agradado, o personagens aparenta ser ótimo!
ResponderExcluirQue legal, Luis :D
ExcluirMas, se você clicar no botão "Contos" no menu, você irá encontrar todos os contos já publicados.
Beijos!!!