Fragmentados

Imagine uma sociedade onde os pais, ou responsáveis, por pessoas de 13 a 18 anos podem escolher simplesmente “abortar” aquele indivíduo. Essa pessoa passaria por um processo que não acabaria com sua vida, simplesmente faria com que ela continuasse vivendo de uma forma “diferente”. A fragmentação é um processo totalmente aceito pela sociedade, porque a pessoa não morre realmente, todo o seu corpo é 100% reaproveitado, portanto, ela continuará a existir inteiramente, mas não por inteiro.

Distopias sempre nos fazem pensar no quanto a nossa sociedade poderia se transformar em algo cada vez mais louco do que ela já é. Essas soluções encontradas para resolver certos problemas podem parecer muito surreais, ao mesmo tempo em que a explicação encontrada para que o mundo chegasse a aquele ponto se encaixaria completamente em vários problemas que nós temos hoje em dia.

 O livro “Fragmentados” é dividido em vários pontos de vista, mas, os principais, são os de Connor, Risa e Lev, que irão ver os seus destinos entrelaçados quando, mesmo com vidas tão diferentes, estão prestes a enfrentar o mesmo destino.

Connor é um garoto problemático, agressivo e que não consegue controlar o seu gênio. Quando ele descobre que seus pais resolvem assinar sua ordem de fragmentação, ele foge, sem medir as consequências. Risa não tem família, ela é uma tutelada do Estado e eles não tem condições de manter tantas crianças sob os seus cuidados, portanto, o destino de muitos deles era sempre o mesmo. Quando se vê em meio a um acidente causado por Connor, ela não perderia a oportunidade de fugir. Lev era um dizimo, o décimo filho da sua família. Ele cresceu sabendo que era especial, que, ao completar 13 anos, sua grande missão seria servir de sacrifício pela sua família. Apesar de conhecer bem e aceitar o seu destino, ao ser sequestrado por um garoto fugindo para não ser fragmentado, ele começa a repensar tudo o que sempre considerou certo em sua vida.

O autor foi realmente muito feliz na forma em que ele uniu os três personagens principais. Três pessoas tão diferentes e que estão indo enfrentar o mesmo destino, também por razões bem diferentes, mas conseguem encontrar um no outro o que eles precisam para escapar daquele destino terrível que tantos jovens são obrigados a enfrentar.

Achei muito interessante o tema que o autor encontrou para ambientar a sua história. Interessante e um tanto quanto assustador. Atualmente, é bem comum o transplante de órgãos, tanto entre pessoas vivas, dependendo do órgão, quanto usar um órgão de alguém que já morreu. Nós sempre ouvimos que uma pessoa que morreu tem a oportunidade de continuar vivendo através de alguém que tem os seus órgãos, e eu sou totalmente a favor disso, mas, não é exatamente essa a justificativa para essa atrocidade que eles fazem com esses jovens no livro? Que a pessoa continuará vivendo porque todo o seu corpo será aproveitado. Isso é um pouco assustador.

Achei “Fragmentados” maravilhoso. Uma distopia excelente, com um tema muito interessante para se ler e se pensar a respeito. Com personagens que realmente nos prendem a cada página e evoluem, de forma maravilhosa com a passar do tempo. Uma leitura imperdível.