A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 12)

| 13 fevereiro 2016 |

Eu mal conseguia respirar. Nenhum guarda havia sobrevivido. Cortes precisos, na altura da cintura, haviam separados os seus corpos.

“Agora ela podia destruir todo um exército com um simples movimento.”

Aquelas palavras pareciam se repetir em minha cabeça. Eu queria sentar no chão, me abraçar e me fundir com a terra para nunca mais respirar novamente. Esse seria exatamente o meu plano, se um som profundo não tivesse chamado minha atenção.

Alex havia sido atingido em vários pontos. Ele perdia muito sangue, mas ainda estava vivo. Sua respiração irregular produzia o som desesperador que eu tinha ouvido. Sangue saia de sua boca, o que piorava a sua situação e o impedia de falar. Ele só estava vivo porque já estava no chão quando minha maldição resolveu destruir tudo ao meu redor. Ele não foi atingido.

Coloquei sua cabeça em meu colo. O que eu não faria nesse momento para amenizar a sua dor? Ele me olhava de forma desesperada. Era cada vez mais difícil respirar. Minhas próprias lágrimas pingavam em seu rosto, mas não eram o suficiente para limpar todo aquele sangue.

Eu sentia que também morreria naquele momento, tamanha era a intensidade que meu coração se apertava dentro de meu peito. Abaixei a cabeça, preparada para fazer aquilo que eu queria, antes de todo esse pesadelo ter início.

Quando toquei seus lábios, com todo o amor que eu poderia sentir naquele momento, a brisa que passou por meus cabelos, congelou meu movimento. ‘Não!’ Era tudo o que eu podia pensar naquele momento. Mas talvez aquilo fosse bom, acabaria de forma rápida com o sofrimento do melhor homem que eu já conheci.

Alex realmente se acalmou em meus braços. Não podia mais ouvir o ruído insistente de sua respiração. Continuei ali, sem me mover, tentando não absorver a realidade que me esperava quando seus lábios estivessem distantes dos meus.

Acho que teria ficado para sempre naquela posição, se não tivesse sentido um leve movimento, algo suave como uma brisa. Um movimento que abriu levemente os meus lábios. Os mesmos lábios que tocavam os de Alex.

Levantei o rosto respirando profundamente. Os olhos dele encaravam como se nunca tivessem me visto. Toquei seu rosto sem acreditar no que estava vendo. O sorriso se misturou com o meu choro, criando um som enrolado em minha garganta.

Olhei para os seus ferimentos, onde as espadas o tinham ferido mortalmente e, se não fosse pelo rastro de sangue, seria como se eles nunca tivessem estado ali.

Alex também olhou para o seu corpo, sem acreditar no que estava vendo. Ele tocou a sua barriga, esperando encontrar o primeiro local onde tinha sido atingido, mas a pele estava intacta.

Ele se levantou um pouco, sorrindo em minha direção. Levou uma das mãos ao meu rosto, e  a cobri imediatamente com as minhas. Aquilo era a coisa mais maravilhosa que já tinha me acontecido. Isso devia ser o que algumas pessoas chamavam de milagre, o meu milagre. Eu poderia gritar de alegria nesse momento.

Seu olhar ainda era um pouco confuso, mas ele sorria em minha direção. Eu tinha certeza de que ele iria me beijar novamente, sua aproximação dizia isso. Quando ele já estava bem próximo, algo chamou sua atenção. Seu olhar passava através de mim e o medo que surgiu ali me dizia exatamente o que ele estava vendo.

Eu podia ter salvado Alex, mas ele era apenas uma vida, isso não fazia de mim um anjo. Eu tinha tirado várias, isso fazia de mim uma amaldiçoada.

Alex se afastou de mim como se um terror nunca antes visto contaminasse o seu corpo. Não tive forças de segui-lo. Ele nunca conseguiria me olhar novamente como antes, não depois de ver o que eu podia fazer.

Não queria deixá-lo, mas era preciso.
Não queria ir embora, mas era o único jeito.
Não queria ficar sozinha, mas eu merecia isso.
Não queria abrir mão da pessoa mais importante da minha vida, mas...

A pessoa mais importante da minha vida. Alex era a pessoa mais importante da minha vida.

Eu precisava abrir mão dele para quebrar aquela maldição.

Minha mente entendia que aquilo fosse o certo, mas meu coração parecia sangrar tanto quanto aqueles homens ao meu redor. Alex se afastava cada vez mais, logo eu não poderia mais alcançá-lo. Mas eu não deveria, não faria aquilo com ele, por mais que parece que um daqueles guardas tivesse conseguido enfiar sua espada em meu coração.

Isso era o certo a se fazer. Agora, sem aquela maldição, eu poderia voltar para casa. Eu sabia que era uma pessoa egoísta, que a lista das pessoas com quem eu precisava me desculpar não tinha fim, mas eu estava pronta para consertar tudo, para começar de novo, sendo realmente uma Princesa para o meu povo.

Coloquei meu corpo de pé, sabendo que a maior parte do meu coração nunca mais se levantaria daquele lugar.

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Andei durante muito tempo embrenhada na floresta. Diferente da primeira vez, agora eu não estava com medo. Por mais que não imaginasse como isso fosse possível, algo me dizia exatamente qual caminho eu deveria seguir.

Quando avistei o Palácio, senti meus olhos encherem de lágrimas, mas elas não eram de alívio. O que eu sentia naquele momento era nostalgia por algo que eu tinha perdido há pouco tempo, mas que pareciam milênios.

Eu tinha aprendido em poucos dias o que eu não aprenderia em uma vida inteira dentro daqueles muros. Agora eu era uma pessoa diferente, alguém que conhecia o sofrimento e que não iria mais desdenhar do sofrimento alheio. O mundo não me pertencia e eu queria ser uma Princesa melhor, se tivesse a oportunidade.

Saí da floresta de cabeça erguida. Eu sabia o que poderia acontecer. Talvez eles nem me escutassem, talvez meu pai mandasse que eu fosse queimada sem nem ao menos ouvir o que eu tinha a dizer, mas eu tinha que tentar. Eu não iria mais fugir.

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