A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 13)

| 20 fevereiro 2016 |
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Cheguei até os portões do Palácio e suspirei de alívio, um segundo antes de me dar conta de que algo muito estranho estava acontecendo. Olhando ao meu redor, não era possível ver uma pessoa sequer do lado de fora. Onde estariam os criados que cuidavam dos jardins e os guardas que patrulhavam aquele lugar?

Dentro do castelo parecia tão silencioso quanto o lado de fora. Aquilo era sem precedentes. Como dezenas de criados poderiam agir de forma tão silenciosa? Era impossível.

Empurrei a porta cautelosamente, esperando que aquilo fosse uma armadilha, exatamente para o meu retorno. Mas nada aconteceu. Realmente não havia ninguém naquele lugar, todos desapareceram.

A casa onde eu cresci parecia um lugar completamente diferente sem uma infinidade de pessoas circulando por aqueles corredores. Eu nunca tinha percebido o quão grande era aquele lugar. Chegava a ser assustador andar por ali sozinha.

Não estava prestando atenção aonde meus pés estavam me levando, até que parei à porta do meu próprio quarto. Aquele era o último lugar que eu tinha visto e estado dentro do Palácio na minha antiga vida, quando eu era uma Princesa mimada que não enxergava ninguém além de si mesma. Eu tinha um pouco de medo de entrar naquele lugar e voltar a ser aquela pessoa.

Mas isso seria impossível. Não poderia esquecer tudo o que aconteceu nos últimos dias, tudo o que vivi e todo o sofrimento que passei e presenciei outras pessoas passarem. Era impossível esquecer.

Entrei no meu quarto e tudo estava exatamente como eu me lembrava. A cama desarrumada e a janela aberta. Não pude impedir um suspiro um pouco mais profundo quando vi novamente o meu vestido de baile. Ele era realmente lindo. Aquela podia ser a coisa mais bonita que alguém já tenha usado em todo o mundo, mas, agora, nesse mundo que eu vivia, ele parecia não ter nenhuma importância.

Na verdade, eu mal podia acreditar que tinha dado tanta importância a alguns pedaços de tecido. Se toda a situação não fosse tão terrível, eu poderia rir em pensar que meu desejo por um vestido perfeito teria desencadeado tudo aquilo.

Olhei uma última vez para o meu vestido, sem sentir nada de especial por aquilo, e deixei o quarto. Os pensamentos do quanto minha vida tinha mudado em tão pouco tempo ocupavam tanto minha atenção, que eu voltei a porta principal do Castelo, e já era tarde demais quando eu percebi o que acontecia do lado de fora.

Vários homens, armados com ferramentas rusticas, me esperavam. Eu não seria ingênua a ponto de achar que eles não estavam ali por mim. Se eu não pudesse me explicar para meus pais, que chance eu teria? Mas não fazia ideia de onde eles estariam, ou o que teria acontecido.

A sede de sangue em seus rostos era palpável. Nenhum deles parecia querer escutar o que eu tinha a dizer e, como não tinha mais a maldição, não existia nada que eu pudesse fazer para me defender.

- Finalmente a amaldiçoada retornou. – Disse um dos homens, dando um passo à frente. Todos eles pareciam querer aquilo, mas o receio de se aproximarem também era perceptível. – Esperamos durante muito tempo, desde que declararam o castelo amaldiçoado e o Rei deixou o lugar. Quando acabarmos com você, a maldição irá embora e esse lugar será nosso.

A coragem estimulada pela cobiça. Talvez aqueles guardas que nos atacaram não estivessem sob ordens de meu pai, talvez estivessem atrás do mesmo prêmio.

Eu sabia que não adiantaria dizer que a maldição tinha terminado. Quem acreditaria em uma suposta amaldiçoada? Eu realmente queria consertar as coisas, ser uma Princesa melhor, mas, naquele momento, o vazio que eu sentia dentro de mim era tão grande, que qualquer outra solução seria bem-vinda. Melhor do que continuar sozinha.

Parecendo perceber minha rendição, eles começaram a avançar. A hora havia chegado e eu não iria lutar. Não poderia pedir perdão a várias pessoas que mereciam, mas não tinha outro jeito.

Quando já estava conformada com meu destino, um barulho próximo aos portões chamou a atenção de todos. Um vulto alto entrava em alta velocidade, vindo em nossa direção.

Os homens abriram caminho, entre mim e o vulto, na tentativa de não serem atingidos. Meu coração, que parecia já ter morrido com a minha decisão, voltou a bater, rápido como as asas de um pássaro, ao avistar aquilo que eu mais desejava no mundo inteiro.

Alex era como uma visão, montado em seu cavalo, vindo em minha direção. Ele não parou até estar ao meu lado. Desceu do seu cavalo e, sem nenhuma hesitação, me puxou para os seus braços.

Era como poder respirar novamente, depois de estar embaixo d’agua por muito tempo. Afundei minha cabeça em seu peito, enquanto sua mão acariciava minha cabeça e a outra envolvia minha cintura. Se o mundo acabasse naquele momento, eu seria a pessoa mais feliz do mundo.

- Eu sinto muito. – Ele sussurrou em meu ouvido, para que ninguém mais pudesse ouvir. – Você me ajudou, depois salvou minha vida. Eu sinto muito por ter deixado você.

Eu não tinha o que dizer, só o apertei com mais força, enquanto fingia que o mundo pertencia a nós dois. Mas ele não pertencia e outras pessoas ainda queriam reivindicar o seu prêmio.

- Ele deve estar mancomunado com a amaldiçoada. – Os homens se juntaram novamente e começaram a se aproximar. – Não tem importância, matamos os dois.

Ao ouvir aquelas palavras, Alex puxou um de meus braços e fez com que eu me posicionasse as suas costas. Aquela posição defensiva era clara. Ele não tinha nenhuma arma em mãos, não poderia fazer nada para nos salvar, mas, mesmo assim, estava disposto a morrer ao meu lado.

Os homens estavam bem próximos. Eu tocava as costas de Alex como que para me despedir daquele toque. Eles estavam atrás de mim, Alex não devia estar aqui. Se eles o matarem, me matarão em seguida. Se eles me matarem, poderão seguir em frente com o seu plano de ocupar o Palácio, e Alex poderá fugir. A escolha era simples e eu sabia que teria a coragem necessária naquele momento.

Quando o ataque decisivo seria lançado contra Alex, eu simplesmente contornei o seu corpo, ficando de frente para ele. Seria maravilhoso que a minha última visão nesse mundo fosse o seu olhar.

Ele me olhou assustado, mas não como das outras vezes. Meu coração ficou feliz por perceber que ele estava assustado por mim, pelo o que poderia acontecer comigo. Alex segurou meus braços, tentando me colocar novamente atrás de si, mas não houve tempo.

Quando senti o metal entrando em meu corpo, foi com tanta intensidade que não pude nem gritar. O meu último pensamento era um desejo, uma oração, para quem quer que fosse, pedindo para que Alex não tivesse o mesmo destino. 

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